Rosália Maria Negrão Pita viveu doze anos sob o peso de uma acusação que alterou drasticamente o rumo de sua vida. Em março de 2012, ela foi apontada como suspeita pela morte do então namorado, José Antônio Silva Braga, em Valença, no interior da Bahia. Mais de uma década depois, o caso ganhou um desfecho inesperado: sua filha, Camila Pita, que tinha apenas 14 anos na época da tragédia, tornou-se advogada e assumiu a própria defesa da mãe no tribunal do júri. O julgamento ocorreu em setembro de 2024, e a absolvição foi unânime. Com quatro votos a zero, o júri afastou tanto a acusação de homicídio quanto a de fraude processual. “Acordei de madrugada com batidas na porta. Eram policiais procurando minha mãe. Fiquei desesperada, sem entender o que estava acontecendo”, relembra Camila, ao falar do dia em que a mãe foi levada para prestar depoimento. A experiência marcou sua adolescência e moldou sua decisão de seguir carreira no Direito com um único objetivo: limpar o nome de Rosália.
Provas frágeis e acusação questionada
Durante o processo, diversas fragilidades na investigação foram destacadas pela defesa. Testes residuográficos realizados tanto em Rosália quanto na vítima deram negativo para pólvora. Além disso, a perícia não identificou digitais da acusada na arma usada no crime. Um laudo independente contratado pela defesa também concluiu que o sangue no vestido de Rosália era compatível com o socorro prestado à vítima, e não uma evidência de autoria do disparo. Ainda assim, o Ministério Público manteve a tese de homicídio por vingança, mencionando um relacionamento conturbado entre Rosália e José Antônio, além de sugerir que a cena do crime teria sido manipulada. A promotoria chegou a pedir que Camila fosse retirada da defesa por ser filha da ré. O juiz, no entanto, reconheceu sua habilitação profissional e permitiu sua atuação no caso.
Uma luta pessoal e profissional
“Meu foco era tão grande, a responsabilidade de garantir a liberdade da minha mãe era tamanha, que mal conseguia comer ou dormir nos dias que antecederam o júri”, revelou Camila. Com conhecimento profundo do processo e o a cada detalhe do inquérito, a jovem advogada conduziu a defesa com firmeza, contrariando o histórico da acusação que durava desde sua adolescência. Após a decisão do júri, Rosália se emocionou: “Foi um teste de sobrevivência. Estou livre para contar essa história.” Já para Camila, a absolvição representa mais do que a vitória em um tribunal. “É o fim de um ciclo de dor e injustiça. Agora, podemos respirar em paz.”